quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Carmen Miranda: "A Pequena Notável"

     Com altura em torno dos 1,53m e uma expressividade que encantou tantos. Esta era Carmen Miranda. Uma artista que encantou o mundo todo com seu gênio e talento que lhes garantiram a propriedade da graça de ser uma das brasileiras mais conhecida no exterior. Quem foi Carmen Miranda e por que é ainda tão conhecida hoje?
     Vendedora de gravatas, Carmen, quer dizer, Maria do Carmo da Cunha Miranda, constantemente cantava para os funcionários da loja onde trabalhava, no Rio de Janeiro. Esta atitude persistente levou à sua demissão com a causa de ser responsável por tirar a atenção das pessoas que ali trabalhavam.
     Nascida em Portugal e trazida para o Brasil com apenas 10 meses de idade, desde muito cedo mostrou seu imenso talento. Acreditando neste imenso potencial, que Josué de Barros, um famoso compositor da época, resolveu apresentar ao público carioca esta "baixinha" além de lhe pagar aulas de canto. Assim, não demorou muito para que produzisse seu primeiro disco, Triste Jandaia que foi um imenso sucesso nas rádios brasileiras.
     Era o começo de uma carreira de sucesso que levaria a "brasileirinha" para a história do Brasil.
     Logo com o despontar da música Pra Você Gostar de Mim, foi considerada "a maior cantora do país" por um jornal da época, O País. Na sequência, assinou um contrato com duração de dois anos com a rádio Mayrink Veiga. O mesmo lhe garantia um salário de 2 contos de réis por mês, mais ou menos, R$ 1.000,00. Algo inédito para a época em que a todas as cantoras de rádio simplesmente recebiam um certo cachê por cada apresentação. Mais tarde, deixaria a mesma para assinar com a Tupi que lhe pagaria 5 contos de réis por mês.
     Foi no dia 20 de janeiro de 1936 que estreou o filme Alô, Alô Carnaval. Devido à sua baixa estatura, usava continuamente enormes saltos o que levou a ser chamada carinhosamente de "pequena notável."
     Já no final da década de 30, passou a ser a artista exclusiva do Cassino da Urca, o que lhe provia um salário impressionante de 30.000 contos de réis. Foi nessa época que interpretou a música que se tornaria famosa em sua voz, "O que é que a baiana tem", música que garantiu o seu ingresso no mundo cultural estadunidense.
     Em março de 1940, fez uma apresentação ao então presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt. No mesmo ano, deixou a marca de suas mãos e pés juntamente com sua assinatura na Calçada da Fama, em Los Angeles. Era a chegada ao topo de sua carreira. Havia alcançado o sucesso internacionalmente estando no mesmo patamar da grandes estrelas da época.
                                                      O Brasil Perde uma Estrela

Carmen Miranda morta. Todos choravam a morte da "pe-
quena notável."
     Em 1954 Carmen Miranda foi constatada pelo médico como uma dependente química de barbitúricos, um grupo de substâncias usadas por seus efeitos sedativos. Por este motivo, passou uma temporada hospedada em uma suíte do hotel Copacabana Palace para tratamento. Mesmo tendo apresentado melhoras, continuou o uso de drogas, cigarro e álcool.
     Após o tratamento retornou com suas apresentações. Entretanto, em uma delas acabou tendo um ligeiro desmaio. Na mesma noite do ocorrido, foi para casa onde lá permaneceu com alguns amigos. Era sua última noite em vida. Após de ter se despedido de suas visitas, foi ao seu quarto onde lá caiu morta após um ataque fulminate do coração. No dia seguinte, seu corpo foi encontrado no chão por sua mãe que se fazia presente nas apresentações da filha. Era o fim de uma das maiores artistas brasileiras.



terça-feira, 2 de agosto de 2011

Uma Jóia de Leonardo da Vinci: a Mona Lisa


     De expressão introspectiva e um sorriso melancólico, quase que obrigado. Esses elementos fazem parte de uma figura amplamente conhecida por todo o mundo. São alguns dos detalhes que compõem o perfil de uma mulher retratada por Leonardo da Vinci em plena época renascentista. Seria o quadro Mona Lisa, também conhecido como Gioconda, a maior obra-prima de um dos maiores gênios da humanidade. Pode-se dizer que não há uma pintura que tenha gerado mais controvérsias e atenção da mídia do que Mona Lisa. Mas, o que está por traz desse quadro que já é considerado o mais valioso do mundo? E qual o motivo de tanta discussão acerca de apenas uma mulher que se acha numa pose meio exibicionista? São essas perguntas que tentaremos responder através de calorosos debates de importantes historiadores e peritos de todo o mundo. Convidamos você a essa viagem por entre os túneis da nossa história.

                                                  Quem Faz o Papel de Modelo?
     
    Talvez seja esta a pergunta mais enigmática por traz desse quadro. Quem seria a modelo que propiciaria esta imensa obra de arte à cultura mundial? Muitos historiadores acreditam que seria a esposa do rico comerciante florentino Francesco del Giocondo que se chamava Lisa e que, segundo documentos escritos pelo italiano Agostino Vespucci, teria sido feito para comemorar um recente caso de maternidade por parte de Lisa Gherardini. 
    Porém, alguns historiadores questionam a teoria acima. Um deles, Maike Vogt-Lüerssen, afirma que a famosa pintura é ninguém menos do que Isabel de Aragão, Duquesa de Milão, pois, segundo este, o vestido retratado na pintura segue o padrão dos membros da casa de Visconti-Sforza e teria sido pintado em 1489.
      Mas, talvez, a mais polêmica teoria seria a da cientista Lillian Schwartz que sugeriu, após intensos estudos,  que a pintura seria um auto-retrato de Leonardo como mulher. O seu estudo baseou-se em observações e comparações dos perfis do pintor e da sua arte e afirmou que se encaixavam perfeitamente. Essa afirmação é, porém, muito criticada por, segundo os criticos, se basear em estudos incompletos e manipulados, que teriam apenas a função de conseguir fama e notoriedade acerca de um assunto tão polêmico que seria a homossexualidade de um dos maiores gênios da humanidade.


                                                               O Padrão Estético de Gioconda
     
     A estética da Mona Lisa é outro assunto que gera bastante discussão. Qual o motivo do sorriso? Será que ela se encontrava feliz? E quanto aos olhos. Por que nos sentimos encarados pela bela mulher? O que seus traços revelam? Essas são algumas das perguntas que rodeiam este assunto tão misterioso.
   O Centro de Pesquisa e Restauração dos Museus da França em conjunto com o Conselho Nacional de Pesuisas do Canadá divulgou um estudo que concluiu que Mona Lisa estaria sorrindo após ter sentado em frente a Leonardo da Vinci e ter dado à luz ao seu segundo filho. Um sentimento que representaria a felicidade materna.
Outra característica apontada pelos pesquisadores autores da pesquisa citada foi o comportamento de seus cabelos que se encontram soltos, uma característica das prostitutas italianas daquela época, dando a ideia de uma mulher bastante liberal. Outra característica apontada pelos pesquisadores foi a presença de um pano finíssimo no decote de Gioconda, uma característica das aristocratas toscanas que o usavam durante o período de gestação e nos meses que vinham após o parto. 
   Outro estudo, guiado pela Universidade de Amsterdã e publicado na revista New Scientist, baseou-se em exames de Raio-X e softwares específicos que chegaram à conclusão de que Gioconda se encontrava 83% feliz, 9% angustiada, 6% assustada e 2% chateada. Como chegaram a esta conclusão, não me perguntem. Pois nem eu sei.


                                        A Mona Lisa e a sua Influência no Mundo Moderno


     Avaliada em 100 milhões de dólares e dona do título de objeto mais valioso do mundo segundo o Guinness Book. Estes dados servem para mostrar o imenso valor que esta obra de arte têm para a cultura mundial. Um quadro. Apenas um quadro. Mas que serve de inspiração para artistas do mundo inteiro. Por dia, estima-se que são produzidas mais de 100 mil unidades de cartazes, anúncios publicitários, camisas e fotos baseados no quadro daquela que se tornou uma das obras mais reverenciadas da arte mundial.

     Em referência a este quadro já foram feitas músicas, peças teatrais, filmes, livros, reproduções estilizadas e tantas outras que se torna impossível citá-las todas. Um exemplo verdadeiro da enorme influência de uma grande obra. Mesmo que não saibamos as respostas aos enigmas que rondam este trabalho temos a certeza de que se trata de uma relíquia que retrata a visão e a cultura de um povo. A visão de um artista, que ao retratar algo anormalmente simples não tem ideia do grande alvoroço que uma obra é capaz de fazer. Prova da capacidade do artista de impressionar e influenciar diversas pessoas de diferentes países, de diferentes culturas, de diferentes épocas e visões. Algo que chamamos de talento fora do normal.
      
     

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Crise de 1929: O Fim de Um Sonho

A crise de 29 ceifou a maré de sorte do capitalismo deixando
muitos na pobreza extrema.
     Era 24 de outubro de 1929. Charles Wilson, um importante acionista de um banco famoso se levanta da cama e vai tomar o seu café sem nenhuma preocupação. Vai para o trabalho e recebe a notícia de um amigo: "aconteceu o crack na Bolsa de Valores. Estamos falidos." Nesse instante, a vida de Charles passa diante de seus olhos. Tudo o que construiu com muito sacrifício se esvai. E o pior. No dia anterior, era um homem bem sucedido nos negócios. Agora, estava literalmente pobre. Não aguentou a decepção e se suicidou. Era a quinta-feira negra que marcou o início da pior crise da história do capitalismo e que levou inúmeros à pobreza  e ao desemprego. Seria o início de um desespero que duraria toda a década de 30. 

Os Anos 20: a Euforia Econômica
  
Publicidade do refrigerante Coca-Cola,
de 1924. Repare que a mão de um ho-
mem bem-sucedido mostra o copo dian-
te da cidade de Nova Iorque para exaltar
o sucesso dos EUA e sua modernidade. 
     Após o fim da Primeira Guerra Mundial, os EUA saíram como a maior potência mundial. A produção norte-americana de carros era a maior do mundo. Estima-se que 85% de todos os automóveis fabricados no mundo eram produzidos nos Estados Unidos. E toda essa arregalia na produção industrial não se restringia somente à indústria automobilística. Eles eram também os maiores produtores mundiais de petróleo, aço, carvão, tecidos, comida enlatada e muito mais. Isso provocou uma grande dilatação na economia dos norte-americanos que abriam novas fábricas e faziam novos investimentos. Uma verdadeira euforia econômica, já que a economia não parava de crescer e os lucros não paravam de aumentar.
     Se a burguesia estava feliz com todos os seus cofres, que a cada dia ficavam mais cheios, imagine a felicidade da classe média norte-americana, que tinha a sua vida marcada pelo consumismo exacerbado. A vida destes privilegiados se resumia a um verbo: comprar. Comprar o quê? Ora, poderia ser um carro, um abajur, um aspirador de pó, comida enlatada, rádios ou uma geladeira. Tudo do bom e do melhor. Algo, que estava praticamente ao alcance apenas dos norte-americanos.


                                            Os Loucos Anos 20: Uma Verdadeira Farra

Os casais se divertem em uma boate de jazz, marcada pelo
colorido e pela bagunça. Repare o corte curto de cabelo das
mulheres e seus braços nus. A inovação da década de 20.
     A década de 20. Quem nunca ouviu falar deste período de festa das classes médias e burguesas norte-americanas? Conhecido como Os Loucos Anos 20, foi uma época de farra, festas e prazer. Uma verdadeira alegria sem fim e também um verdadeiro "cabarezal".
     Viver na década de 20 significava o divertimento sem compromisso algum. Significava dançar charleston nas boates que viviam abarrotadas de rapazes e moças. Significava as mulheres poderem fumar e usar roupas coladas e cabelos curtos. Sem falar no jazz que arrasava os corações dos jovens.
     Nessa mesma época, houve o surgimento do movimento surrealista que procurava libertar o homem comum da ditadura racional, que esmagava o irracional e o inconsciente, responsáveis pelo papel criativo no homem. Ou seja, era uma profunda crítica aos burgueses que só pensavam em lucrar.
     Mas, sem dúvida, um dos maiores impactos na civilização da época foi o rádio. Já imaginou ouvir pela primeira vez algo que estava sendo transmitido na mesma hora e no mesmo instante a dezenas de milhares de famílias espalhadas por todo o mundo? Era todos sentindo a mesma emoção de uma notícia. Agora, a humanidade se fazia mais próxima e uniforme, mesmo não estando todos numa mesma sala.

                                                          Um Herói Bandido: Al Capone

     Entre 1920 e 1933, foi imposta a Lei Seca. Desta forma, estava proibida a fabricação e a comercialização de bebidas alcoólicas. O resultado? Nunca se bebeu tanto nos Estados Unidos.
Al Capone, o mais famoso dos gângsteres. Ma-
tou, roubou e mesmo assim é considerados por
muitos um grande herói.
     E foi nessa época que entrou em ação os gângsteres, famosas quadrilhas de marginais que fabricavam uísque clandestinamente e contrabandeavam inúmeras bebidas. O mais famoso deles foi Al Capone. Conhecido pela sua crueldade e frieza com que assassinava qualquer que o atrapalhasse, subornou políticos e policiais. Era dono de casas de jogos, clubes noturnos, cervejarias e bordéis chegando a faturar mais de 120 milhões de dólares com todas as suas ilegalidades. Devido às suas noitadas bastante devassas acabou contraindo sífilis. Só conseguiram prendê-lo após descobrirem que ele sonegava o imposto de renda. Sendo assim, foi condenado a 11 anos de prisão, mas teve a sua pena revista devido à complicações de sífilis, doença que lhe levou à morte em 1947, pondo fim à vida de assassinatos e atividades ilegais.
     Porém, mesmo com toda essa biografia escrupulosa, muitos o consideram um herói. Talvez, essa imagem tenha vindo das informações passadas pelos filmes, que colocam Al Capone como o mocinho da história. O que leva a mídia a criar histórias falsas a respeito de determinadas personalidades? Qual o problema em contar as histórias como elas realmente aconteceram? Será que a mídia procura familiarizar os seus espectadores com o crime e a malandragem? Boas perguntas.

                                            O Início da Grande Depressão: Crack da Bolsa

Uma multidãose aglomera em frente à Bolsa de Nova York,
em Wall Street. Era o crack.
     Era 24 de outubro de 1929. O terror toma conta da Bolsa de Valores de Nova York. Muitos dos grandes empresários viam o valor das ações de suas empresas despencando a ponto de não valerem mais um centavo. Um verdadeiro abismo que tragou inúmeras empresas levando-as à falência. Era o fim da maré de sorte do capitalismo e o início da Grande Depressão. Estava acabado o sonho de consumo das classes média e burguesas de todo o mundo.
     Com o crack (quebra) da Bolsa de Nova York, não demorou muito para que o resto do mundo sentisse todo o terror. Devido à grande interligação da economia mundial com poucas horas depois, a bomba estoura nas bolsas em Londres, Tóquio, Berlim, Amsterdã e Paris.
O Grito, de Edvard Munch. Um retrato da Grande
Depressão: terror, angústia e solidão.
     Mas talvez você esteja se perguntando por que as bolsas de valores de outros países acabaram sofrendo se todo o problema iniciou-se nos Estados Unidos? A resposta é simples. Já naquela época, a economia do mundo inteiro estava muito interligada. Os EUA, já sendo a maior potência mundial, era um país que tinha um enorme mercado consumidor o que levava à importação de inúmeros produtos de outros países para suprir essa grande demanda. Para exemplificar melhor, supomos que você seja dono de uma fábrica de automóveis. Como dito anteriormente, havia uma grande procura por automóveis, principalmente pela classe média,  tornando-se necessário a fabricação de muitos carros o que exigia matéria-prima. Todo esse material necessário para a fabricação seria aço, pneus de borracha, estofados, óleos lubrificantes, graxa e etc. A maioria dessas mercadorias eram compradas de empresas de outros países. Com a quebra da bolsa, sua fábrica acabou sofrendo com a diminuição da produção o que acabou prejudicando as empresas as quais você adquiria as matérias-primas. Automaticamente, os outros países também acabavam entrando na crise.

                                                                 A Superprodução 
    
    O pensador francês Charles Fourier dizia: "No capitalismo, a abundância gera a miséria." Podemos dizer que esta simples frase resume todo o motivo para que hovesse a Grande Depressão. Para entedermos esta ideia por completo iremos analisar mais detalhadamente a forma como o sistema capitalista funciona.
O contraste entre o american way of life e a fome e o desem-
prego. Fila de proletários que buscam pelo alimento.
     Na sociedade capitalista, quase tudo que temos ou o que queremos é uma mercadoria. Foi feita para ser vendida. Um perfume, um carro, um alimento, uma roupa, um celular. E para obter todos estes produtos é necessário comprar. E os empresário que os fabricam precisam vender para poder lucrar. Para que os lucros sejam bem altos é necessário obter matéria-prima e mão de obra baratas. E claro, os preços lá em cima. Nesta sociedade capitalista, o que vale é a lei do "cada um por si". Os empresários, visando maximizar os seus lucros, procuram produzir algo que agrade para poder vender muito, pois todo aquele empresário que não vende, sabe que a falência está a um passo. Por isso, o que vale é a inovação. Criar algo exclusivo, que agrade aos consumidores, incitando-os a comprarem. Os seus concorrentes para não ficarem para trás, inventam novos produtos que chame a atenção dos consumidores. E assim a coisa vai indo.
     Porém, desde Adam Smith, o principal era o ideal do livre mercado. Ou seja, cada empresário que cuidasse do seu próprio negócio. Ou seja, se caso o executivo estava tendo doces lucros, sorte sua. Se caso estivesse se lascando, azar o dele. Desta forma, todos acreditavam que devido a esta autonomia particular somada à inovação produtiva a economia crescia cada vez mais. Só não contavam com a desorganização econômica que isso gerava.
    
   
        
    
    
    


  

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Elis Regina: 30 anos de Saudades da "Doce Pimenta"

Elis Regina em seu jeito histriônico de cantar. Afinação e po-
tência concentradas em uma única voz.
     Dona de uma voz insuperável e de uma personalidade extremamente forte. Assim pode-se caracterizar a gaúcha Elis Regina. Conhecida basicamente por sua personalidade e gênio difíceis, é considerada, atualmente, a maior cantora brasileira de todos os tempos. Altamente polêmica pelas suas atitudes e suas inúmeras frases famosas, entre elas, a mais conhecida — "No Brasil só duas cantam: Gal e eu."
     Tendo iniciado sua carreira aos 16 anos quando gravou seu primeiro LP - disco de vinil - em 1961, (Viva a Brotolândia), o Brasil conhece o que viria a ser a maior estrela da música brasileira. Mais tarde, em 1964, depois de mais dois discos gravados e inúmeros shows, conhece o produtor  Solano Ribeiro, de quem recebe o convite para apresentar o programa O Fino da Bossa, ao lado de Jair Rodrigues, na TV Record e que lhe renderia três discos de sucesso e o maior salário pago a um artista brasileiro da época.
Viva a Brotolândia, primeiro disco de
Elis gravado quando ela tinha 16 anos.
     De voz potente e extremamente afinada, Elis explorou inúmeros gêneros musicais como a Bossa Nova, o Rock, o Samba, a MPB e o Pop. Imortalizou um número relevante de músicas as quais podemos citar Madalena, O Bêbado e a Equilibrista, Como Nossos Pais, O Mestre Sala dos Mares, Águas de Março (dueto com Tom Jobim), Alô Alô Marciano, Querelas do Brasil e inúmeras outras. No decorrer de sua carreira, interpretou músicas de artistas até então desconhecidos como Milton Nascimento, Gilberto Gil, João Bosco, Renato Teixeira, Aldir Blanc, Ivan Lins ajudando-os a tornar a público o seu trabalho e impulsionando a carreira artística desses novos compositores.


                             A Polêmica Elis Regina
     Devido ao seu gênio difícil e sua forte personalidade, o poeta Vinícius de Moraes apelidou-a carinhosamente de Pimentinha, apelido que é lembrado até hoje. Durante toda a sua carreira, foi alvo de inúmeras polêmicas com diversas pessoas do ramo artístico. Em uma delas e, talvez, a mais expressiva foi o seu desentendimento com as cantoras Maysa Matarazzo e Nara Leão no final da década de 60. O motivo da rivalidade criada entre as três tinha nome e sobrenome: Ronaldo Bôscoli. Compositor e produtor musical era, na época, noivo de Nara Leão. Porém, após uma turnê de shows pela Europa, traiu-a com a cantora Maysa que afirmou à imprensa que iria casar-se com Bôscoli. Com isso, Nara cortou relações com Ronaldo e Maysa, sua amiga e acabou com o noivado. Pouco tempo depois, Ronaldo Bôscoli divulgou que iria casar-se com Elis Regina, gerando o descontentamento de Maysa, que nutria uma forte paixão pelo produtor musical. Então começava a onda de ataques entre Elis e Maysa, que logo tratou de chamar a rival de "mau-caráter. Já Elis havia afirmado que a musa da bossa, Nara Leão tinha "sangue de barata" e que a odiava. Fora esse relato, há outros que descrevem a inimizade entre Elis e Maria Bethânia, que era marcada pela busca do título de maior cantora brasileira. Pouco tempo depois da morte de Elis, em 1982, pela primeira vez, Maria Bethânia se pronuncia a respeito de Elis. Afirmou que nunca teve intimidade com ela, porém a esnobava pela sua garra e seu desejo de se superar "pisando em quem fosse". Lindas palavras não? Por que será que Maria Bethânia nunca falou isso quando Elis ainda era viva? 
     Diz-se que Elis Regina era fortemente ignorante e que não media palavras quando o assunto era criticar qualquer pessoa a quem não gostasse. Nunca se rebaixou diante de ninguém, e nem mesmo mudou seu jeito de ser após a formação de sua sólida carreira. Andava de maneira simples, mesmo depois da fama, algo que pode ser comprovado pela sua maneira de vestir-se nos shows e entrevistas que concedia. Também eram frequentes as suas idas a bares populares. Em suas entrevistas, chegou várias vezes a falar palavrões, uma forma real de mostrar a sua personalidade difícil.  
     Confira agora, suas frases mais polêmicas:
  • "Meu problema são 10 centímetros a mais; então estaria tudo resolvido."
  • "Sempre vou viver como camicase. É isso que me faz ficar de pé."
  • "O importante é não aceitar o jogo, ser anti-sucesso. Sou uma estrela."
  • "Quero saber é do brasileiro, não estou preocupada em cromar minha orelha e sair para a rua para chamar a atenção."
  • "Cantar, para mim, é sacerdócio. O resto é o resto."
  • "Tenho o prazer de me danar e me recompor sozinha. Não preciso de muletas."
  • "Não passo o dia olhando pro meu umbigo para ver se nasce um pé de couve."
  • "As pessoas que me chamaram de mau-caráter estavam se auto-criticando."
  • "Por que exigem de mim tanta coisa? Sou boa cantora e ainda tenho de ser educada?"
  • "Eu talvez vá morrer sem nunca entender as pessoas."
  • "A lucidez me leva às raias da loucura."
  • "Esse tal de iê iê iê é uma droga."

                    A Morte de Elis Regina: o Brasil Perde uma Estrela  
    Com imensa vitalidade aos seus 36 anos, Elis Regina Carvalho Costa vivia a melhor parte de sua carreira. Porém, esse sonho seria interrompido em 27 de janeiro de 1982. O Brasil perde a sua maior cantora. Sua morte aconteceu no seu apartamento nos Jardins, em São Paulo. Seu velório foi realizado no Teatro Bandeirantes, palco de seu maior show, Falso Brilhante. Seu cortejo fúnebre, que aconteceu numa quarta-feira à tarde, foi acompanhado por cerca de 1000 pessoas que atravessaram cerca de metade da capital paulista até o cemitério do Morumbi.
Elis Regina morta. A bandeira do Brasil estampa o cai-
de uma das maiores estrelas da música brasileira.
     Com menos de 48 horas depois do enterro de Elis, veio o segundo choque e, sem dúvida, o pior. Desde o acontecido no apartamento de Elis, havia um mistério quanto às verdadeiras causas da morte da cantora devido à decisão da médica, que cuidara do caso, de não fornecer o atestado de óbito. Após o término dos exames realizados pelo IML (Instituto Médico Legal), a causa da morte: intoxicação combinada de bebidas alcoólicas e cocaína. De início, houve a resistência em aceitar o verdadeiro motivo da morte. Mais então iniciou-se uma campanha de difamação da imagem da cantora pelos meios de comunicação. Uma delas foi a poderosa Rede Globo que montou uma ampla estrutura para fazer uma cobertura completa acerca desse acontecimento histórico. Tal esquema de cobertura, até hoje se comparou apenas à morte do cantor Michael Jackson. A emissora de Roberto Marinho fez questão de divulgar um vídeo de um clipe da cantora, gravado para o tradicional Fantástico e que, porém não foi ao ar porque não teria agradado à produção pelo seu profundo estado de embriaguez. Os amigos mais íntimos de Elis tentaram defendê-la a todo custo. Eram constantes as réplicas dos cantores Jair Rodrigues e Edu Lobo às reportagens veinculadas no rádio e na televisão que tentavam implantar na população a afirmação de que Elis era uma "mulher infeliz e drogada". Há até um certo grau de verdade nesta afirmação, já que Elis Regina havia entrado em depressão pela busca da perfeição em seu trabalho e sua vida incerta. As novas cantoras que surgiam e que ameaçavam o seu posto (pensamento esse, que só existia na cabeça da nossa gaúcha) e o medo em enfrentar, muitas vezes, a plateia fria e amarga lhe causava um certo desconsolo e uma tristeza que só era bloqueada com droga e álcool. Porém, com a afirmação do delegado de polícia a respeito da veracidade do exame divulgado pelo IML, o Brasil entrou em choque.
      No entanto, podemos perceber a grande ironia presente na História. Depois da morte de nossa amada Pimentinha é que foi aberto o caminho de um julgamento baseado na artista que Elis foi e não nas decisões precipitadas e erradas que marcaram a sua vida pessoal. Pois, ninguém acreditava que havia uma Elis que tinha medo dos palcos e das multidões. Numa Elis, que dizia "morro do medo, faço todos os espetáculos me borrando de medo, todos os dias. Faço, mas com medo. E se mandar parar, eu paro, porque medo eu tenho."
     E era esse medo que alimentava a sua agressividade e a inspiração no palco. Como ela dizia: "eu não tenho a menor intenção de ser simpática a algumas pessoas. Me furtam o direito de escolher. Sou obrigada a aceitar quem passar pela frente. Me tomam por quem? Um imbecil? Sou algo que se molda do jeitinho que se quer? Isso é o que todos queriam, na realidade. Mas não vão conseguir, porque quando descobrirem que estou verde já estarei amarela. Eu sou do contra. Sou a Elis Regina do Carvalho Costa que poucas pessoas vão morrer conhecendo." 

Gravação do LP Elis & Tom, 1974. Águas de Março

O Tratado de Versalhes

Assinatura do Tratado de Versalhes na Galeria dos
Espelhos. Aos contrário do que muitos pensam es-
se tratado teve a finalidade de saquear a Alemanha
colocá-la no seu devido lugar. Lindo, não.
     1918. Termina a Primeira Guerra Mundial. Agora, era a hora de impor as penalidades por parte dos vencedores aos perdedores, nesse caso a "terrível" Alemanha que acabou sendo praticamente assaltada. Uma dessas penalidades foi o famoso Tratado de Versalhes que definiu a Alemanha como culpada pela guerra e responsável por arcar todas as responsabilidades. Esse tratado de paz (de paz só tinha mesmo o nome, pois serviu mesmo foi para arrancar as riquezas da Alemanha e eliminar o terrível concorrente) foi apenas uma forma de humilhar os alemães.Vale salientar, caro leitor que a Alemanha não foi a única culpada da guerra, mas também teve sua participação na matança e na procura da supremacia europeia, no entanto foi a única resposabilizada pelos danos que trouxeram à humanidade.
     O tratado foi assinado na Galeria dos Espelhos, no dispendioso palácio de Versalhes (daí o nome do tratado), símbolo da monarquia absolutista francesa do século XVIII. Porém, o presidente norte-americano Woodrow Wilson foi contra o tratado, afirmando que de nada valeria impor a paz à Alemanha de uma forma que a sacrificasse. Para ele, isso era apenas mais um motivo para aumentar a tensão na Europa. Por isso, propôs um programa denominado 14 Pontos de Wilson que tinha como ideia principal a tentativa de manter a paz e o equilíbrio na Europa, no entanto só alguns poucos pontos foram acatados.
Caricatura da época que satiriza o Tratado de Versalhes retra-
tando o Kaiser (chefe do governo alemão) saindo do hospital
todo machucado. Pobre da Alemanha, tadinha quem poderia
lhe ajudar? Descarta a hipótese do Chapolin Colorado.
     Segundo o Tratado de Versalhes, a Alemanha teria que devolver toda a região da Alsácia-Lorena, rica em jazidas de ferro e carvão, à França além de perder o controle da região de Sarre, que por sua vez, era rica em carvão. Teve sua força bélica reduzida a quase nada e a perda do controle de todas as suas colônias. E pra terminar, se viu obrigada a pagar uma enorme quantia aos vencedores como pagamento pelos prejuízos da guerra. US$ 33 bilhões para ser mais exato. Pra quê indenização mais gorda?
     Você tem ideia de qual seja o bicho mais ganancioso e sem piedade existente na Terra? Se você pensou no homem, acertou. Por apenas ganância e sede de dinheiro o homem já roubou e ceifou inúmeras vidas. As guerras são uma prova concreta disso. Tem o único objetivo de matar e acabar com um povo. E mesmo com o seu fim trágico, o ponto sempre em questão são os lucros. Como a história é repleta de contradições, não é mesmo?
Não concorda, caro leitor?

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sexta-feira, 15 de abril de 2011

A Reforma Protestante

Foto da Praça de São Pedro, Vaticano. Repare na estrutura que lembra dois bra-
ços que buscam abraçar os fieís. A construção dessa basílica gastou um absurdo,
levando os papas a procurarem novas formas de obter dinheiro para custear os gastos. 

"Se a religião do Cristianismo tivesse sido conservada segundo os preceitos do Fundador, o Estado e a comunidade da cristandade seriam muito mais unidos e felizes do que o são. Nem pode haver maior prova de sua decadência do que o fato de que quanto mais perto estão as pessoas da Igreja Romana, cabeça de sua religião, menos religiosas são."                    
                                                                                                 Maquiavel.

Rodrigo Bórgia através de assassinatos
e suborno conseguiu se eleger papa, em
1492. A realidade da igreja no século
XV, corrupção e decadência .
     12 de Setembro de 1484. Morre o papa Inocêncio VIII. Quem o sucederá? É então divulgado os nomes dos candidatos à sucessão papal estando na lista Rodrigo de Bórgia, um grande nobre espanhol e influente cardeal da Igreja Católica. Porém, a presença de mais dois candidatos o incomodava. O que fazer? Simples. Eliminar a concorrência. Por isso, contratou um assassino profissional que cuidou muito bem do serviço. Faltava o outro candidato. Então Rodrigo usou sua fortuna para subornar boa parte dos cardeais que iriam escolher o novo papa. Estava feito. Rodrigo de Bórgia é eleito o novo papa com o nome de Alexandre VI, que reinou de 1492 a 1503. Considerado o mais terrível dos papas, envolveu-se em assassinatos e orgias sexuais. Teve inúmeras amantes, sete filhos, a quem o deu inúmeros cargos na Igreja, e uma trajetória de vida manchada pela corrupção. Após a sua morte, o filósofo italiano Maquiavel, que comumente criticava a Igreja Católica na época, disse que sua alma seria levada ao tribunal dos céus, "escoltada pela crueldade, pela corrupção e pela luxúria.
     Durante o período dos séculos XIV e XV, a cúpula da Igreja agia de forma totalmente oposta aos princípios bíblicos. "A verdadeira tragédia da igreja medieval é que ela deixou de acompanhar os tempos.... Longe de ser progressiva, longe de prover liderança espiritual, ela foi retrógrada e decadente, corrupta em todos os seus setores." Desta forma, o livro A História da Reforma, descreve a situação da poderosa e sólida Igreja Católica Apostólica Romana, que era tida como símbolo da presença de Deus na Terra. Por isso, costumava-se dizer na época: "Se quer estragar seu filho, faça dele um sacerdote." 
Erasmo de Roterdã, teólogo católico, criticou
fortemente a Igreja e a venda de indulgências.
Porém, era contrário à Reforma Protestante.
     Ao fim do século XV, a Igreja de Roma, através das inúmeras doações de nobres e comerciantes, tornou-se a maior proprietária de terras da Europa tendo cerca de metade das propriedades da França e da Alemanha. Porém, com toda esta riqueza veio a corrupção que tomou de conta do clero, que acabou corrompido passando, assim, a se preocupar cada vez menos com os asuntos religiosos e com a situação da maior parte da população da época, que vivia oprimida e esquecida. Consta que certo espanhol, que vivia na época, queixou-se dizendo: "Vejo que dificilmente podemos obter algo dos ministros de Deus sem ser por dinheiro; no batismo, dinheiro... no casamento, dinheiro, para confissão, dinheiro - sim, nem mesmo a extrema unção se consegue sem dinheiro! Eles não tocam os sinos sem dinheiro, não realizam funerais religiosos sem dinheiro; parece que o Paraíso está vedado aos que tem dinheiro." Um constrante bem profundo com o pensamento dos verdadeiros cristãos registrado em I Timóteo 6:10.

     Porém, eram necessárias novas fontes de arrecadação para manter toda a grandeza da igreja. Sobre isso, o historiador Will Durant escreveu:
"Cada delegado eclesiástico era solicitado a enviar à Cúria Papal — escritórios de administração do papado — metade da renda de seu cargo para o primeiro ano ('anatas'), e daí em diante um décimo ou dízimo por ano. Um novo bispo tinha de pagar ao papa uma quantia importante pelo pálio tira de lã branca que servia de confirmação e insígnia de sua autoridade. Na morte de um cardeal, arcebispo ou abade, suas propriedades particulares revertiam ao papado.... Todo julgamento ou favor conseguido da Cúria exigia um presente como confirmação, e às vezes, o julgamento era dito pelo presente."
     Além disso, era comum a venda, por parte dos padres, de certos objetos anunciados como milagrosos. Um exemplo disso, foi a comercialização de supostos pedaços da cruz onde Jesus teria sido crucificado. O teólogo e humanista italiano, Erasmo de Roterdã ironizou as tais vendas, afirmando que se juntassem todos esses abençoados pedacinhos de madeira, era possível construir um navio.
Xilogravura do século XVI que retrata
a venda de indulgências pelo papa.
     Porém, sem dúvida, a venda de indulgências era a atitude mais desprezível da igreja, ou seja, a venda do perdão divino. Essa prática consistia no pagamento de uma determinada quantia aos padres e, então, o fiel recebia um atestado que comprovava a absolvição dos pecados. E elas não eram vendidas só em favor dos vivos, mas também dos mortos. Na época, dizia um ditado popular: "Assim que a moeda no cofre cai, a alma do purgatório sai." Essa prática causou profunda indignação por parte dos fiéis mais sinceros que exigiam a reforma da igreja ou a criação de uma nova. Bem, as duas coisas iriam acontecer. De um lado, acontecia o surgimento de novas igrejas cristãs que não se submetiam às ordens papais. Essa onda de criações de novas igrejas recebeu o nome de Reforma Protestante. Isso culminou com a conscientização da Igreja Católica que promoveu diversas mudanças internas e regimentais, a Contra-Reforma. Porém, caro leitor, é necessário salientar a grande importãncia e influência da Igreja Católica na época. Logo, a Reforma Protestante não foi um mero acontecimento religioso, mas também sócio-cultural e até mesmo econômico.
                                                        A Reforma e as Teses de Lutero 
     Podemos dizer que o pontapé decisivo para o início da Reforma aconteceu no dia 31 de outubro de 1517, quando o monge agostiniano Martinho Lutero pregou na porta do castelo de Wittenberg, as suas 95 teses. Veja um trecho desse documento: "Acredita-se que mais de 300 mil florins [antiga moeda europeia] sejam enviados da Alemanha para Roma, sem nenhuma razão (...) eles (os príncipes) não devem permitir que suas terras e seu povo sejam tão lamentável e injustamente despojados e arruinados..." Nesta tese, vemos a crítica de Lutero à venda de indulgências, porém percebemos que seu protesto ia além da religião, chegando a abordar assuntos políticos e econômicos.
Martinho Lutero teve uma imagem
erroneamente concebida como um
homem preocupado com as verdades
bíblicas. Mas a história diz outra versão
     Lutero denunciou a venda de indulgências acreditando que somente Deus poderia conceder o perdão ao homem. Devido às suas influências humanista-renascentistas, pregava o individualismo, ou seja, a crença de que o homem não precisava pertencer a uma comunidade religiosa (igreja) para ser salvo, mas exclusivamente de sua fé e crença. Acreditava que a Bíblia deveria estar disponível a todos e que poderia ser interpretada de acordo com o pensamento de cada um. Lutero foi também uma figura bastante controversa. Em seus últimos anos de vida, tornou-se antissemita, preconceituoso com relação a judeus, chegando a afirmar que suas casas e sinagogas deveriam ser destruídas e seu dinheiro confiscado além da perda de sua liberdade. O mesmo pregado pelos facistas séculos depois. Prova de que o preconceito aos judeus era algo antigo.
     Desde o início, não fazia parte dos planos de Lutero a fundação de uma nova igreja, mas sim a reforma do catolicismo, pois ele mesmo, em momento algum, desafiou a autoridade papal. Isso pode ser provado pelas seguintes teses:
     "5. O papa não tem a intenção nem o poder de remir qualquer penalidade, exceto as que ele impôs por sua própria autoridade....
     20. Por conseguinte, quando o papa fala da plena remissão de todas as penalidades, isso não significa realmente de todas, mas apenas daquelas impostas por ele mesmo....
      36. Todo cristão que sente verdadeira compunção tem direito à plena remissão da punição e da culpa, mesmo sem cartas de indulto."
      Porém, devido às suas críticas constantes aos bispos e a recusa em revogar seus escritos, acabou sendo expulso da igreja pelo Papa Leão X, recebendo um documento de excomunhão e recomendação ao inferno.
Lutero apresentando suas teses aos teólogo católicos. Diferente
do que muitos pensam, suas teses atingiram uma crítica política
e econômica
     Após a sua excomunhão, Lutero foi convocado à dieta, em Worms, onde foi julgado pelo imperador Carlos V, um católico extremamente fanático, e declarado fora-da-lei. No entanto, o governante do estado de origem de Lutero, Frederico de Saxônia, veio em sua ajuda oferecendo-lhe abrigo no castelo de Wartburg. O que justifica essa atitude por parte de um príncipe feudal?
     Os príncipes alemães, que haviam rompido com a igreja de Roma,  criam que com a difusão do luteranismo, os bens do clero seriam confiscados. Além disso, eles eram contrários à pretensão de unificação da Alemanha pelo imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Carlos V que era também rei da Espanha, reino tradicionalmente católico, pois a Alemanha ficaria subordinada à Espanha, já que o rei da nova Alemanha unificada seria Carlos V.
     Com isso, Lutero passou a escrever seus panfletos no interior de um luxuoso castelo fortemente armado e protegido por inúmeros soldados. Tudo com muita extravagância. Por isso, Lutero não teve o mesmo destino de muitos outros que tinham o plano de mobilizar uma reforma religiosa na Europa e que acabaram sendo queimados na fogueira. Era o velho esquema da mobilização religiosa a favor de assuntos políticos. Uma realidade dura que ainda acontece nos dias de hoje.
         A Reforma Religiosa Camponesa: os Anabatistas
Thomas Münzer, o líder do movimento anabatista.
      Na Alemanha, além da revolta religiosa luterana, houve também um outro movimento que pregava a partir de uma interpretação bíblica oposta à visão de Lutero. Eram os anabatistas. Liderados pelo professor humanista Thomas Münzer, diziam que Cristo foi uma pessoa pobre que viveu entre os humildes e que o Cristianismo repassava uma mensagem em favor dos pobres e oprimidos e contrárias aos ricos. Era a favor de uma sociedade igualitária, sem distinções de classe, em uma terra que não haveria nobres nem mesmo pessoas sem ter onde viver ou plantar. Também eram a favor do batismo reservado apenas aos fiéis adultos, que tinham plena consciência de suas atitudes.
     Influenciados pelas ideias anabatistas, os camponeses de várias regiões da Alemanha iniciaram inúmeras revoltas, onde os castelos eram invadidos e os nobres expulsos, feudos que eram atacados e suas terras tomadas e divididas entre os servos. Tudo em nome da religião e do Cristianismo. Devido às constantes revoltas, os nobres ficaram apavorados e contrataram um poderoso exército que esmagou os anabatistas e capturou Thomas Münzer que foi submetido a tortura e queimado na fogueira. Claro, tudo apoiado por Lutero, que era politicamente conservador e a favor da mobilização contra o papa, mas contra qualquer forma de rebelião contra os nobres. Que exemplo hein?

                        O Protestantismo a Favor do Capitalismo: o Calvinismo
João Calvino. Repare que sua imagem procu-
ra repassar a imagem de um intelectual e ca-
paz de grandes atos.
     Lutero teve um forte apoio dos príncipes feudais alemães. Em contrapartida, em outros lugares da Europa, a Reforma teve apoio de uma outra classe, a burguesia. Estamos falando da Reforma Calvinista, liderada por João Calvino, que inicialmente aconteceu na Suíça depois espalhou-se para outros países europeus.
     A principal teoria defendida por Calvino era a predestinação sobre a qual ele escreveu:
      "Afirmamos que, por um eterno e imutável desígnio, Deus determinou de uma vez por todas, tanto a quem Ele concederá salvação, como a quem ele condenará à destruição. Afirmamos que este desígnio, no que tange aos eleitos, é fundado em Sua gratuita misericórdia, totalmente independente de mérito humano; mas que àqueles a quem Ele entrega à condenação, o portão da vida é fechado por um julgamento justo e irrepreensível, porém incompreensível."
     Vejamos o raciocínio dele: Calvino dizia que quando nascemos já estamos com todo o nosso destino traçado por Deus. Isso significa que se vamos ter nosso lugar no céu ou uma hospedagem reservada no fogo do inferno dependeria exclusivamente da vontade de Deus. As pessoas fadadas à salvação estariam protegidas por ele, tendo uma vida confortável regada com o trabalho árduo. E quem seriam estes sortudos? Os nobres é que não poderiam ser, pois tinham uma vida confortável sem "pregar um prego numa barra de sabão", literalmente. Agora raciocine: quem eram aqueles que "trabalhavam bastante" e tinham uma vida muito boa, porém não eram reconhecidos pela igreja que via o trabalho como algo ruim e detestável? Isso mesmo. Eram os burgueses. Percebeu como as ideias de Calvino serviram como luva nas mãos dos burgueses. Dessa forma, os burguesinhos eram orientados desde criança a buscar uma vida banhada por muitos lucros. A busca por dinheiro em favor da salvação. Um "lindo discurso", não acha? Ideias assim só serviram para desenvolver o capitalismo e os negócios da burguesia. Por esse motivo, logo o Calvinismo atingiria países como a Holanda e a Inglaterra.

      A Rigidez Calvinista
Por seus pensamentos contrários à visão de
Calvino, Miguel Servet foi queimado lenta-
mente na fogueira.
Em nome de Deus muitos queimaram
e foram queimados na fogueira.
     Hoje em dia, chamamos de puritana toda pessoa que segue determinados padrões e valores morais muito rígidos. No entanto, originalmente os puritanos eram os calvinistas que viviam na Inglaterra. Conhecidos por seguirem hábitos morais rigorosos. Porém os calvinistas franceses e suíços também eram profundamente rigorosos. Consideravam pecados gravíssimos ir ao teatro, escutar músicas que não fossem religiosas, ingerir qualquer tipo de bebida alcóolica, vestir-se focado com a beleza da roupa, praticar qualquer tipo de jogo. Aqueles que praticavam qualquer uma dessas violações era severamente punidos. Um exemplo disso foi de uma "certa cabeleireira, por exemplo, por arrumar o cabelo de uma noiva duma maneira considerada indecorosa, foi encarcerada por dois dias; e a mãe, junto com duas amigas, que haviam ajudado no processo, sofreram a mesma penalidade. Dançar e jogar baralho também eram punidos pelo magistrado." Também eram aplicadas tratamentos duros aos que mantinham divergências da teologia pregada por Calvino, sendo o caso mais famoso a queima do espanhol Miguel Servet na fogueira, porque contrariou a teoria calvinista da trindade no livro Erros da Trindade em que delarou que "não usaria a palavra Trindade, que não se encontra nas Escrituras, e que apenas parece perpetuar erros filosóficos. Ele ainda denunciou a Trindade como doutrina "que não dá para entender, impossível na ordem natural das coisas e que pode até mesmo ser considerada blasfema!" Calvino justificou suas atitudes com estas palavras: "Se os papistas são tão duros e violentos na defesa de suas supertições que cruelmente derramam sangue inocente, não devem os magistrados cristãos se envergonhar de serem menos ardentes na defesa da segura verdade? O fanatismo e o ódio cegam Calvino sufocando assim, os princípios bíblicos cristãos.
                 A Noite de São Bartolomeu
A Noite de São Bartolomeu. Intolerância e ódio marcados
no coração humano. Assassinatos em nome de um mesmo
Deus. Quão é controversa a história, não acha?
     Durante a Reforma Protestante, o que não faltou foi intolerância e ódio. Os protestantes afirmavam que a igreja Católica era a representação diabólica na terra. O mesmo falavam os católicos acerca dos protestantes. Devido ao grande prestígio alcançados por Calvino, ele conquistou o poder na cidade suíça de Genebra. Governou de maneira muito dura. Foi implacável com os opositores ou qualquer outro que fosse contrário às suas ideias.
     Na França, aconteceu o mais terrível episódio de fanatismo e intolerância, o massacre da Noite de São Bartolomeu (1572) que marcou o conflito entre católicos e huguenotes (calvinistas). Organizada pela casa real francesa, tradicionalmente católica, que planejaram a matança dos protestantes por parte dos católicos e vitimando assim, cerca de 30 mil huguenotes.
     Tendo os ataques iniciados nas primeiras horas da madrugada de 24 de agosto, dia de São Bartolomeu, foram mortos dezenas de líderes calvinistas em Paris após uma série de coordenados ataques, todos promovidos pela família real.

           A Reforma na Inglaterra: o Anglicanismo
     A Reforma Protestante na Inglaterra deu-se de duas formas. A primeira foi a chegada das ideias calvinistas, que levaram ao adepto de muitos burgueses e artesãos. A segunda maneira foi com a criação da Igreja Anglicana pelo rei Henrique VIII que foi mativada por assuntos políticos e econômicos. Vamos conhecer todos os fatos em detalhes.
Rei Henrique VIII. Repare em sua pose.
Ombros largos, pernas distantes uma da
outra. Uma imagem do rei como o todo-
poderoso.
     A Espanha, na época tornou-se uma grande potência econômica devido às riquezas conseguidas de suas colônias na América. Acontece que este poderoso reino era o maior aliado do papa. O rei Henrique VIII, procurando estabelecer sua supremacia no continente europeu procurou reforçar o poder de seu Estado Nacional. O grande problema é que ele era casado com Catarina de Aragão, sobrinha do rei da Espanha Carlos V. Tentando apagar qualquer influência espanhola em seu reino, buscou junto ao papa o fim do seu casamento que já durava 18 anos, alegando que a rainha não era capaz de dar-lhe um filho varão. (Um exemplo verdadeiro de machismo, pois hoje sabemos que o responsável por determinar o sexo do bebê são os cromossomos fornecidos pelo homem.) O papa, mantendo sua aliança política com a Espanha, recusou-se a realizar a separação do rei que queria se casar com a jovem Ana Bolena.
Ana Bolena. O seu casamento com o
rei Henrique foi apenas um pretexto
para o fim da aliança entre Espanha e
Inglaterra. Logo depois, seria morta a
mando do rei.
     Furioso com a atitude do papa, rompeu com a igreja de Roma e proclamou o Ato de Supremacia nomeando-se assim, chefe da Igreja da Inglaterra que passou a se chamar Igreja Anglicana. Após a proclamação desse ato, assumiu o controle de todos os bens pertencentes à Igreja Católica na Inglaterra. Essa nova igreja, claro, permitiu que ele se casasse com Ana Bolena.
     Recapitulando: a Inglaterra experimentou duas reformas religiosas, a anglicana e a forte influência do calvinismo.  Agora perceba a ironia presente na história: Henrique VIII separou-se de Catarina de Aragão porque queria da rainha, um filho varão. Com Ana Bolena, teve apenas uma filha, a famosa rainha Elizabete I, conhecida por ter exercido um dos reinados mais notáveis da história inglesa. Pouco depois divorciou-se e mandou matar Ana Bolena. Teve ao total 6 esposas, das quais mandou decapitar duas e outras duas morreram de morte natural.

                                                  A Reforma Católica: a Contrarreforma
Pintura representando uma sessão do Concílio de Trento.
     Diante da expansão e do avanço do protestantismo, era de se esperar alguma atitude por parte da Igreja Católica. Essa atitude foi tomada com a montagem do Concílio de Trento que reuniu  autoridades eclesiásticas entre 1545 e 1563. Baseava-se em uma reforma interna para que fossem eliminados os abusos mais evidentes, assegurar a doutrina católica e tentar esmagar qualquer pessoa que pensasse diferente da igreja romana.
     Uma das primeiras medidas foi uma faxina moral na Igreja. Dessa forma, vários padres corruptos foram expulsos e a venda de indulgências foi abolida. Porém, muita coisa continuou como estava. Um exemplo foi a autoridade do papa que continuou sendo o chefe supremo da Igreja Católica.
Capa do Livro do Índex
     Com a contrarreforma veio também o célebre e desprezível Tribunal do Santo Ofício, antiga Santa Inquisição que havia sido criada na Idade Média e que agora havia sido restaurada, tendo perdurado até o século XVIII. Nesse tribunal, as pessoas eram julgadas por crimes contra a fé e a Igreja. E um dos métodos mais eficazes para a obtenção de confissões era a tortura. Os "criminosos" poderiam ter seus pés queimados com óleo fervente, ter seus mamilos torcidos com um alicate. Qualquer monstruosidade que você talvez possa imaginar. Ou seja, várias pessoas inocentes eram torturadas por discordarem da Igreja. E o mais curioso é que todas essas ações eram feitas "em nome de Deus."
     As pessoas perseguidas pela Igreja eram os hereges, ou seja, os protestantes, cientistas, filósofos, judeus, etc.
A pena dessa gente poderia ser desde uma multa ou advertência até a execução na fogueira.
Gravura que retrata a tortura de um homossexual por padres
do Tribunal do Santo Ofício. Quem seria resonsável por esse
crime?
     Vários pensadores foram queimados vivos na fogueira. Giordano Bruno e Joana d'Arc foram um dos mais célebres punidos pela Igreja. Até mesmo Galileu Galilei foi punido pelos padres devido a sua teoria de que o sol era o centro do universo. Acabou tendo que negar a afirmação para não ir para  a fogueira.  
     Uma outra medida tomada no Concílio de Trento foi a formulação do Índex, uma lista de todos os livros proibidos. Era praticamente uma forma de censura contra as novas ideias e descobertas que se opunham ao pensamento divulgado pela igreja. Foram vários os livros proibidos, entre eles, podemos citar obras de pensadores como Thomas Hobbes, René Descartes, Nicolau Maquiavel e até Jean Rousseau. Essa lista só foi abolida em 1966 pelo papa Paulo VI. A tradição contra o desenvolvimento científico.

                                                   Os Efeitos da Reforma
     Tendo sido considerada as quatro principais correntes da Reforma — Luterana, Anabatista, Anglicana e Calvinista — é preciso atentar às mudanças provocadas por este acontecimento histórico. Sem dúvida, a Reforma foi responsável por ter mudado os rumos do mundo ocidental. O pesquisador John Hurst em seu livro Breve História da Reforma, escreveu: "O efeito da Reforma foi aferventar no povo uma sede de liberdade e de cidadania mais elevada e mais pura. Onde quer que a causa protestante se expandisse, ela tornava as massas mais cônscias de seus direitos." Muitos historiadores chegam a afirmar que teria sido impossível termos a civilização de hoje se não tivesse acontecido a Reforma.
     Um dos maiores benefícios fornecidos pela Reforma foi a democratização da Bíblia e, com isso, o aumento no índice de alfabetizados no mundo. Já com relação às doutrinas praticadas entre as igrejas protestantes, praticamente não apresentavam nenhuma diferença com relação à católica, pois praticamente todas abraçaram os mesmos credos.
     O mais lamentável foi que a Reforma não satisfez nenhum fiel que realmente buscasse, de forma sincera, a aproximação ao verdadeiro Deus. Na realidade, a diversidade de igrejas só serviram para que fosse questionada a existência de Deus. E o resultado foi um grande aumento no número de ateus e agnósticos.
     Através de um exame cuidadoso dos fatos percebemos que, na realidade, as igrejas protestantes, em sua maioria, surgiram para satisfazer o desejo dos príncipes feudais e da burguesia que, juntos, visavam a obtenção de propriedades, riquezas, dinheiro. Com isso, o fiel não era obrigado de forma alguma a se adaptar para que vivesse sobre os altos padrões exigidos por Deus, pois as igrejas é que iriam se adaptar a você. Uma vergonha, mas que se faz presente atualmente em nosso meio.