sexta-feira, 15 de abril de 2011

A Reforma Protestante

Foto da Praça de São Pedro, Vaticano. Repare na estrutura que lembra dois bra-
ços que buscam abraçar os fieís. A construção dessa basílica gastou um absurdo,
levando os papas a procurarem novas formas de obter dinheiro para custear os gastos. 

"Se a religião do Cristianismo tivesse sido conservada segundo os preceitos do Fundador, o Estado e a comunidade da cristandade seriam muito mais unidos e felizes do que o são. Nem pode haver maior prova de sua decadência do que o fato de que quanto mais perto estão as pessoas da Igreja Romana, cabeça de sua religião, menos religiosas são."                    
                                                                                                 Maquiavel.

Rodrigo Bórgia através de assassinatos
e suborno conseguiu se eleger papa, em
1492. A realidade da igreja no século
XV, corrupção e decadência .
     12 de Setembro de 1484. Morre o papa Inocêncio VIII. Quem o sucederá? É então divulgado os nomes dos candidatos à sucessão papal estando na lista Rodrigo de Bórgia, um grande nobre espanhol e influente cardeal da Igreja Católica. Porém, a presença de mais dois candidatos o incomodava. O que fazer? Simples. Eliminar a concorrência. Por isso, contratou um assassino profissional que cuidou muito bem do serviço. Faltava o outro candidato. Então Rodrigo usou sua fortuna para subornar boa parte dos cardeais que iriam escolher o novo papa. Estava feito. Rodrigo de Bórgia é eleito o novo papa com o nome de Alexandre VI, que reinou de 1492 a 1503. Considerado o mais terrível dos papas, envolveu-se em assassinatos e orgias sexuais. Teve inúmeras amantes, sete filhos, a quem o deu inúmeros cargos na Igreja, e uma trajetória de vida manchada pela corrupção. Após a sua morte, o filósofo italiano Maquiavel, que comumente criticava a Igreja Católica na época, disse que sua alma seria levada ao tribunal dos céus, "escoltada pela crueldade, pela corrupção e pela luxúria.
     Durante o período dos séculos XIV e XV, a cúpula da Igreja agia de forma totalmente oposta aos princípios bíblicos. "A verdadeira tragédia da igreja medieval é que ela deixou de acompanhar os tempos.... Longe de ser progressiva, longe de prover liderança espiritual, ela foi retrógrada e decadente, corrupta em todos os seus setores." Desta forma, o livro A História da Reforma, descreve a situação da poderosa e sólida Igreja Católica Apostólica Romana, que era tida como símbolo da presença de Deus na Terra. Por isso, costumava-se dizer na época: "Se quer estragar seu filho, faça dele um sacerdote." 
Erasmo de Roterdã, teólogo católico, criticou
fortemente a Igreja e a venda de indulgências.
Porém, era contrário à Reforma Protestante.
     Ao fim do século XV, a Igreja de Roma, através das inúmeras doações de nobres e comerciantes, tornou-se a maior proprietária de terras da Europa tendo cerca de metade das propriedades da França e da Alemanha. Porém, com toda esta riqueza veio a corrupção que tomou de conta do clero, que acabou corrompido passando, assim, a se preocupar cada vez menos com os asuntos religiosos e com a situação da maior parte da população da época, que vivia oprimida e esquecida. Consta que certo espanhol, que vivia na época, queixou-se dizendo: "Vejo que dificilmente podemos obter algo dos ministros de Deus sem ser por dinheiro; no batismo, dinheiro... no casamento, dinheiro, para confissão, dinheiro - sim, nem mesmo a extrema unção se consegue sem dinheiro! Eles não tocam os sinos sem dinheiro, não realizam funerais religiosos sem dinheiro; parece que o Paraíso está vedado aos que tem dinheiro." Um constrante bem profundo com o pensamento dos verdadeiros cristãos registrado em I Timóteo 6:10.

     Porém, eram necessárias novas fontes de arrecadação para manter toda a grandeza da igreja. Sobre isso, o historiador Will Durant escreveu:
"Cada delegado eclesiástico era solicitado a enviar à Cúria Papal — escritórios de administração do papado — metade da renda de seu cargo para o primeiro ano ('anatas'), e daí em diante um décimo ou dízimo por ano. Um novo bispo tinha de pagar ao papa uma quantia importante pelo pálio tira de lã branca que servia de confirmação e insígnia de sua autoridade. Na morte de um cardeal, arcebispo ou abade, suas propriedades particulares revertiam ao papado.... Todo julgamento ou favor conseguido da Cúria exigia um presente como confirmação, e às vezes, o julgamento era dito pelo presente."
     Além disso, era comum a venda, por parte dos padres, de certos objetos anunciados como milagrosos. Um exemplo disso, foi a comercialização de supostos pedaços da cruz onde Jesus teria sido crucificado. O teólogo e humanista italiano, Erasmo de Roterdã ironizou as tais vendas, afirmando que se juntassem todos esses abençoados pedacinhos de madeira, era possível construir um navio.
Xilogravura do século XVI que retrata
a venda de indulgências pelo papa.
     Porém, sem dúvida, a venda de indulgências era a atitude mais desprezível da igreja, ou seja, a venda do perdão divino. Essa prática consistia no pagamento de uma determinada quantia aos padres e, então, o fiel recebia um atestado que comprovava a absolvição dos pecados. E elas não eram vendidas só em favor dos vivos, mas também dos mortos. Na época, dizia um ditado popular: "Assim que a moeda no cofre cai, a alma do purgatório sai." Essa prática causou profunda indignação por parte dos fiéis mais sinceros que exigiam a reforma da igreja ou a criação de uma nova. Bem, as duas coisas iriam acontecer. De um lado, acontecia o surgimento de novas igrejas cristãs que não se submetiam às ordens papais. Essa onda de criações de novas igrejas recebeu o nome de Reforma Protestante. Isso culminou com a conscientização da Igreja Católica que promoveu diversas mudanças internas e regimentais, a Contra-Reforma. Porém, caro leitor, é necessário salientar a grande importãncia e influência da Igreja Católica na época. Logo, a Reforma Protestante não foi um mero acontecimento religioso, mas também sócio-cultural e até mesmo econômico.
                                                        A Reforma e as Teses de Lutero 
     Podemos dizer que o pontapé decisivo para o início da Reforma aconteceu no dia 31 de outubro de 1517, quando o monge agostiniano Martinho Lutero pregou na porta do castelo de Wittenberg, as suas 95 teses. Veja um trecho desse documento: "Acredita-se que mais de 300 mil florins [antiga moeda europeia] sejam enviados da Alemanha para Roma, sem nenhuma razão (...) eles (os príncipes) não devem permitir que suas terras e seu povo sejam tão lamentável e injustamente despojados e arruinados..." Nesta tese, vemos a crítica de Lutero à venda de indulgências, porém percebemos que seu protesto ia além da religião, chegando a abordar assuntos políticos e econômicos.
Martinho Lutero teve uma imagem
erroneamente concebida como um
homem preocupado com as verdades
bíblicas. Mas a história diz outra versão
     Lutero denunciou a venda de indulgências acreditando que somente Deus poderia conceder o perdão ao homem. Devido às suas influências humanista-renascentistas, pregava o individualismo, ou seja, a crença de que o homem não precisava pertencer a uma comunidade religiosa (igreja) para ser salvo, mas exclusivamente de sua fé e crença. Acreditava que a Bíblia deveria estar disponível a todos e que poderia ser interpretada de acordo com o pensamento de cada um. Lutero foi também uma figura bastante controversa. Em seus últimos anos de vida, tornou-se antissemita, preconceituoso com relação a judeus, chegando a afirmar que suas casas e sinagogas deveriam ser destruídas e seu dinheiro confiscado além da perda de sua liberdade. O mesmo pregado pelos facistas séculos depois. Prova de que o preconceito aos judeus era algo antigo.
     Desde o início, não fazia parte dos planos de Lutero a fundação de uma nova igreja, mas sim a reforma do catolicismo, pois ele mesmo, em momento algum, desafiou a autoridade papal. Isso pode ser provado pelas seguintes teses:
     "5. O papa não tem a intenção nem o poder de remir qualquer penalidade, exceto as que ele impôs por sua própria autoridade....
     20. Por conseguinte, quando o papa fala da plena remissão de todas as penalidades, isso não significa realmente de todas, mas apenas daquelas impostas por ele mesmo....
      36. Todo cristão que sente verdadeira compunção tem direito à plena remissão da punição e da culpa, mesmo sem cartas de indulto."
      Porém, devido às suas críticas constantes aos bispos e a recusa em revogar seus escritos, acabou sendo expulso da igreja pelo Papa Leão X, recebendo um documento de excomunhão e recomendação ao inferno.
Lutero apresentando suas teses aos teólogo católicos. Diferente
do que muitos pensam, suas teses atingiram uma crítica política
e econômica
     Após a sua excomunhão, Lutero foi convocado à dieta, em Worms, onde foi julgado pelo imperador Carlos V, um católico extremamente fanático, e declarado fora-da-lei. No entanto, o governante do estado de origem de Lutero, Frederico de Saxônia, veio em sua ajuda oferecendo-lhe abrigo no castelo de Wartburg. O que justifica essa atitude por parte de um príncipe feudal?
     Os príncipes alemães, que haviam rompido com a igreja de Roma,  criam que com a difusão do luteranismo, os bens do clero seriam confiscados. Além disso, eles eram contrários à pretensão de unificação da Alemanha pelo imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Carlos V que era também rei da Espanha, reino tradicionalmente católico, pois a Alemanha ficaria subordinada à Espanha, já que o rei da nova Alemanha unificada seria Carlos V.
     Com isso, Lutero passou a escrever seus panfletos no interior de um luxuoso castelo fortemente armado e protegido por inúmeros soldados. Tudo com muita extravagância. Por isso, Lutero não teve o mesmo destino de muitos outros que tinham o plano de mobilizar uma reforma religiosa na Europa e que acabaram sendo queimados na fogueira. Era o velho esquema da mobilização religiosa a favor de assuntos políticos. Uma realidade dura que ainda acontece nos dias de hoje.
         A Reforma Religiosa Camponesa: os Anabatistas
Thomas Münzer, o líder do movimento anabatista.
      Na Alemanha, além da revolta religiosa luterana, houve também um outro movimento que pregava a partir de uma interpretação bíblica oposta à visão de Lutero. Eram os anabatistas. Liderados pelo professor humanista Thomas Münzer, diziam que Cristo foi uma pessoa pobre que viveu entre os humildes e que o Cristianismo repassava uma mensagem em favor dos pobres e oprimidos e contrárias aos ricos. Era a favor de uma sociedade igualitária, sem distinções de classe, em uma terra que não haveria nobres nem mesmo pessoas sem ter onde viver ou plantar. Também eram a favor do batismo reservado apenas aos fiéis adultos, que tinham plena consciência de suas atitudes.
     Influenciados pelas ideias anabatistas, os camponeses de várias regiões da Alemanha iniciaram inúmeras revoltas, onde os castelos eram invadidos e os nobres expulsos, feudos que eram atacados e suas terras tomadas e divididas entre os servos. Tudo em nome da religião e do Cristianismo. Devido às constantes revoltas, os nobres ficaram apavorados e contrataram um poderoso exército que esmagou os anabatistas e capturou Thomas Münzer que foi submetido a tortura e queimado na fogueira. Claro, tudo apoiado por Lutero, que era politicamente conservador e a favor da mobilização contra o papa, mas contra qualquer forma de rebelião contra os nobres. Que exemplo hein?

                        O Protestantismo a Favor do Capitalismo: o Calvinismo
João Calvino. Repare que sua imagem procu-
ra repassar a imagem de um intelectual e ca-
paz de grandes atos.
     Lutero teve um forte apoio dos príncipes feudais alemães. Em contrapartida, em outros lugares da Europa, a Reforma teve apoio de uma outra classe, a burguesia. Estamos falando da Reforma Calvinista, liderada por João Calvino, que inicialmente aconteceu na Suíça depois espalhou-se para outros países europeus.
     A principal teoria defendida por Calvino era a predestinação sobre a qual ele escreveu:
      "Afirmamos que, por um eterno e imutável desígnio, Deus determinou de uma vez por todas, tanto a quem Ele concederá salvação, como a quem ele condenará à destruição. Afirmamos que este desígnio, no que tange aos eleitos, é fundado em Sua gratuita misericórdia, totalmente independente de mérito humano; mas que àqueles a quem Ele entrega à condenação, o portão da vida é fechado por um julgamento justo e irrepreensível, porém incompreensível."
     Vejamos o raciocínio dele: Calvino dizia que quando nascemos já estamos com todo o nosso destino traçado por Deus. Isso significa que se vamos ter nosso lugar no céu ou uma hospedagem reservada no fogo do inferno dependeria exclusivamente da vontade de Deus. As pessoas fadadas à salvação estariam protegidas por ele, tendo uma vida confortável regada com o trabalho árduo. E quem seriam estes sortudos? Os nobres é que não poderiam ser, pois tinham uma vida confortável sem "pregar um prego numa barra de sabão", literalmente. Agora raciocine: quem eram aqueles que "trabalhavam bastante" e tinham uma vida muito boa, porém não eram reconhecidos pela igreja que via o trabalho como algo ruim e detestável? Isso mesmo. Eram os burgueses. Percebeu como as ideias de Calvino serviram como luva nas mãos dos burgueses. Dessa forma, os burguesinhos eram orientados desde criança a buscar uma vida banhada por muitos lucros. A busca por dinheiro em favor da salvação. Um "lindo discurso", não acha? Ideias assim só serviram para desenvolver o capitalismo e os negócios da burguesia. Por esse motivo, logo o Calvinismo atingiria países como a Holanda e a Inglaterra.

      A Rigidez Calvinista
Por seus pensamentos contrários à visão de
Calvino, Miguel Servet foi queimado lenta-
mente na fogueira.
Em nome de Deus muitos queimaram
e foram queimados na fogueira.
     Hoje em dia, chamamos de puritana toda pessoa que segue determinados padrões e valores morais muito rígidos. No entanto, originalmente os puritanos eram os calvinistas que viviam na Inglaterra. Conhecidos por seguirem hábitos morais rigorosos. Porém os calvinistas franceses e suíços também eram profundamente rigorosos. Consideravam pecados gravíssimos ir ao teatro, escutar músicas que não fossem religiosas, ingerir qualquer tipo de bebida alcóolica, vestir-se focado com a beleza da roupa, praticar qualquer tipo de jogo. Aqueles que praticavam qualquer uma dessas violações era severamente punidos. Um exemplo disso foi de uma "certa cabeleireira, por exemplo, por arrumar o cabelo de uma noiva duma maneira considerada indecorosa, foi encarcerada por dois dias; e a mãe, junto com duas amigas, que haviam ajudado no processo, sofreram a mesma penalidade. Dançar e jogar baralho também eram punidos pelo magistrado." Também eram aplicadas tratamentos duros aos que mantinham divergências da teologia pregada por Calvino, sendo o caso mais famoso a queima do espanhol Miguel Servet na fogueira, porque contrariou a teoria calvinista da trindade no livro Erros da Trindade em que delarou que "não usaria a palavra Trindade, que não se encontra nas Escrituras, e que apenas parece perpetuar erros filosóficos. Ele ainda denunciou a Trindade como doutrina "que não dá para entender, impossível na ordem natural das coisas e que pode até mesmo ser considerada blasfema!" Calvino justificou suas atitudes com estas palavras: "Se os papistas são tão duros e violentos na defesa de suas supertições que cruelmente derramam sangue inocente, não devem os magistrados cristãos se envergonhar de serem menos ardentes na defesa da segura verdade? O fanatismo e o ódio cegam Calvino sufocando assim, os princípios bíblicos cristãos.
                 A Noite de São Bartolomeu
A Noite de São Bartolomeu. Intolerância e ódio marcados
no coração humano. Assassinatos em nome de um mesmo
Deus. Quão é controversa a história, não acha?
     Durante a Reforma Protestante, o que não faltou foi intolerância e ódio. Os protestantes afirmavam que a igreja Católica era a representação diabólica na terra. O mesmo falavam os católicos acerca dos protestantes. Devido ao grande prestígio alcançados por Calvino, ele conquistou o poder na cidade suíça de Genebra. Governou de maneira muito dura. Foi implacável com os opositores ou qualquer outro que fosse contrário às suas ideias.
     Na França, aconteceu o mais terrível episódio de fanatismo e intolerância, o massacre da Noite de São Bartolomeu (1572) que marcou o conflito entre católicos e huguenotes (calvinistas). Organizada pela casa real francesa, tradicionalmente católica, que planejaram a matança dos protestantes por parte dos católicos e vitimando assim, cerca de 30 mil huguenotes.
     Tendo os ataques iniciados nas primeiras horas da madrugada de 24 de agosto, dia de São Bartolomeu, foram mortos dezenas de líderes calvinistas em Paris após uma série de coordenados ataques, todos promovidos pela família real.

           A Reforma na Inglaterra: o Anglicanismo
     A Reforma Protestante na Inglaterra deu-se de duas formas. A primeira foi a chegada das ideias calvinistas, que levaram ao adepto de muitos burgueses e artesãos. A segunda maneira foi com a criação da Igreja Anglicana pelo rei Henrique VIII que foi mativada por assuntos políticos e econômicos. Vamos conhecer todos os fatos em detalhes.
Rei Henrique VIII. Repare em sua pose.
Ombros largos, pernas distantes uma da
outra. Uma imagem do rei como o todo-
poderoso.
     A Espanha, na época tornou-se uma grande potência econômica devido às riquezas conseguidas de suas colônias na América. Acontece que este poderoso reino era o maior aliado do papa. O rei Henrique VIII, procurando estabelecer sua supremacia no continente europeu procurou reforçar o poder de seu Estado Nacional. O grande problema é que ele era casado com Catarina de Aragão, sobrinha do rei da Espanha Carlos V. Tentando apagar qualquer influência espanhola em seu reino, buscou junto ao papa o fim do seu casamento que já durava 18 anos, alegando que a rainha não era capaz de dar-lhe um filho varão. (Um exemplo verdadeiro de machismo, pois hoje sabemos que o responsável por determinar o sexo do bebê são os cromossomos fornecidos pelo homem.) O papa, mantendo sua aliança política com a Espanha, recusou-se a realizar a separação do rei que queria se casar com a jovem Ana Bolena.
Ana Bolena. O seu casamento com o
rei Henrique foi apenas um pretexto
para o fim da aliança entre Espanha e
Inglaterra. Logo depois, seria morta a
mando do rei.
     Furioso com a atitude do papa, rompeu com a igreja de Roma e proclamou o Ato de Supremacia nomeando-se assim, chefe da Igreja da Inglaterra que passou a se chamar Igreja Anglicana. Após a proclamação desse ato, assumiu o controle de todos os bens pertencentes à Igreja Católica na Inglaterra. Essa nova igreja, claro, permitiu que ele se casasse com Ana Bolena.
     Recapitulando: a Inglaterra experimentou duas reformas religiosas, a anglicana e a forte influência do calvinismo.  Agora perceba a ironia presente na história: Henrique VIII separou-se de Catarina de Aragão porque queria da rainha, um filho varão. Com Ana Bolena, teve apenas uma filha, a famosa rainha Elizabete I, conhecida por ter exercido um dos reinados mais notáveis da história inglesa. Pouco depois divorciou-se e mandou matar Ana Bolena. Teve ao total 6 esposas, das quais mandou decapitar duas e outras duas morreram de morte natural.

                                                  A Reforma Católica: a Contrarreforma
Pintura representando uma sessão do Concílio de Trento.
     Diante da expansão e do avanço do protestantismo, era de se esperar alguma atitude por parte da Igreja Católica. Essa atitude foi tomada com a montagem do Concílio de Trento que reuniu  autoridades eclesiásticas entre 1545 e 1563. Baseava-se em uma reforma interna para que fossem eliminados os abusos mais evidentes, assegurar a doutrina católica e tentar esmagar qualquer pessoa que pensasse diferente da igreja romana.
     Uma das primeiras medidas foi uma faxina moral na Igreja. Dessa forma, vários padres corruptos foram expulsos e a venda de indulgências foi abolida. Porém, muita coisa continuou como estava. Um exemplo foi a autoridade do papa que continuou sendo o chefe supremo da Igreja Católica.
Capa do Livro do Índex
     Com a contrarreforma veio também o célebre e desprezível Tribunal do Santo Ofício, antiga Santa Inquisição que havia sido criada na Idade Média e que agora havia sido restaurada, tendo perdurado até o século XVIII. Nesse tribunal, as pessoas eram julgadas por crimes contra a fé e a Igreja. E um dos métodos mais eficazes para a obtenção de confissões era a tortura. Os "criminosos" poderiam ter seus pés queimados com óleo fervente, ter seus mamilos torcidos com um alicate. Qualquer monstruosidade que você talvez possa imaginar. Ou seja, várias pessoas inocentes eram torturadas por discordarem da Igreja. E o mais curioso é que todas essas ações eram feitas "em nome de Deus."
     As pessoas perseguidas pela Igreja eram os hereges, ou seja, os protestantes, cientistas, filósofos, judeus, etc.
A pena dessa gente poderia ser desde uma multa ou advertência até a execução na fogueira.
Gravura que retrata a tortura de um homossexual por padres
do Tribunal do Santo Ofício. Quem seria resonsável por esse
crime?
     Vários pensadores foram queimados vivos na fogueira. Giordano Bruno e Joana d'Arc foram um dos mais célebres punidos pela Igreja. Até mesmo Galileu Galilei foi punido pelos padres devido a sua teoria de que o sol era o centro do universo. Acabou tendo que negar a afirmação para não ir para  a fogueira.  
     Uma outra medida tomada no Concílio de Trento foi a formulação do Índex, uma lista de todos os livros proibidos. Era praticamente uma forma de censura contra as novas ideias e descobertas que se opunham ao pensamento divulgado pela igreja. Foram vários os livros proibidos, entre eles, podemos citar obras de pensadores como Thomas Hobbes, René Descartes, Nicolau Maquiavel e até Jean Rousseau. Essa lista só foi abolida em 1966 pelo papa Paulo VI. A tradição contra o desenvolvimento científico.

                                                   Os Efeitos da Reforma
     Tendo sido considerada as quatro principais correntes da Reforma — Luterana, Anabatista, Anglicana e Calvinista — é preciso atentar às mudanças provocadas por este acontecimento histórico. Sem dúvida, a Reforma foi responsável por ter mudado os rumos do mundo ocidental. O pesquisador John Hurst em seu livro Breve História da Reforma, escreveu: "O efeito da Reforma foi aferventar no povo uma sede de liberdade e de cidadania mais elevada e mais pura. Onde quer que a causa protestante se expandisse, ela tornava as massas mais cônscias de seus direitos." Muitos historiadores chegam a afirmar que teria sido impossível termos a civilização de hoje se não tivesse acontecido a Reforma.
     Um dos maiores benefícios fornecidos pela Reforma foi a democratização da Bíblia e, com isso, o aumento no índice de alfabetizados no mundo. Já com relação às doutrinas praticadas entre as igrejas protestantes, praticamente não apresentavam nenhuma diferença com relação à católica, pois praticamente todas abraçaram os mesmos credos.
     O mais lamentável foi que a Reforma não satisfez nenhum fiel que realmente buscasse, de forma sincera, a aproximação ao verdadeiro Deus. Na realidade, a diversidade de igrejas só serviram para que fosse questionada a existência de Deus. E o resultado foi um grande aumento no número de ateus e agnósticos.
     Através de um exame cuidadoso dos fatos percebemos que, na realidade, as igrejas protestantes, em sua maioria, surgiram para satisfazer o desejo dos príncipes feudais e da burguesia que, juntos, visavam a obtenção de propriedades, riquezas, dinheiro. Com isso, o fiel não era obrigado de forma alguma a se adaptar para que vivesse sobre os altos padrões exigidos por Deus, pois as igrejas é que iriam se adaptar a você. Uma vergonha, mas que se faz presente atualmente em nosso meio.  

    

                   
    
    
    
         
    

    

Um comentário:

  1. Estou impressionado com a qualidade do conteúdo e a maneira didática de apresentar os fatos. Muito bom!!! Continuem assim,estarei aqui mais vezes. Bom trabalho!!!

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